O maior país asiático e também o mais populoso do mundo tem uma longa e rica história. No esporte, o xadrez acaba disputando espaço com diversas outras modalidades, inicialmente inclusive com o próprio xadrez chinês (ou Xiangqi). Tendo apenas recentemente aderido ao universo enxadrístico em peso, portanto, é impressionante observarmos como a escola chinesa se posiciona como uma das grandes potências do xadrez atual. Além de ter nomes como o de Liren Ding brigando pela elite mundial, a China está sempre no topo dos pódios femininos.
As Olimpíadas
O primeiro pódio da equipe chinesa absoluta veio com a prata em 2006, mas a seleção feminina já estava em destaque desde 1990. Foram três bronzes seguidos até 1994 e mais um em 2006. A primeira prata veio em 1996 e elas também conquistaram o segundo posto em 2010, 2012 e 2014. Enquanto a equipe absoluta tem ouros em 2014 e 2018, as mulheres já subiram ao topo seis vezes: 1998, 2000, 2002, 2004, 2016 e 2018. Das últimas 15 edições, 14 vezes elas se colocaram entre as três maiores seleções do mundo. Já são a maior nação em número de medalhas, embora ainda atrás pelo número de ouros – a seleção soviética/russa está à frente com 11 ouros e 2 pratas.
Imagem 1: Seleção Absoluta ouro em 2014 | Imagem 2: Seleção Feminina ouro em 2016 | Imagem 3: Seleção Feminina ouro em 2018
O início da geração de ouro
Xie Jun nasceu na cidade de Baoding, província de Hebei, em 30 de outubro de 1970. Começou a jogar xadrez chinês aos 6 anos e, aos 10, entrou na Academia de Xadrez de Pequim, vencendo o campeonato da capital no mesmo ano. Passou a jogar xadrez internacional e acumulou muitos títulos na década seguinte. Em 1990, após vencer o torneio de candidatos superando atletas como Nona Gaprindashvili (ex-campeã mundial), conquistou a vaga de desafiante ao título máximo do xadrez feminino.
Em 1991, surpreendeu o mundo no 25º Campeonato Mundial Feminino, realizado em Manila/Filipinas, ao superar a então campeã, Maia Chiburdanidze, que detinha o título por treze anos. Com um placar de 8,5×6,5, tornou-se a 7ª e primeira não europeia Campeã Mundial Feminina, quebrando a hegemonia soviética de mais de 40 anos. Dois anos depois se tornou a primeira asiática a conquistar o título de Grande Mestre (GM).
Ela defendeu a coroa em 1993 sem grandes dificuldades, vencendo Nana Ioseliani por um placar de 8,5×2,5. Perdeu o posto em 1996, mas voltou a reinar entre 1999 e 2001. Tendo sido ao todo quatro vezes Campeã Mundial Feminina, tornou-se amplamente conhecida e seu sucesso fez muito para popularizar o xadrez internacional no país e no resto da Ásia.
Continuando o destaque
Xie Jun não voltou a disputar os mundiais femininos, mas o título permaneceu em mãos chinesas. Zhu Chen nasceu em Wenzhou, província de Zhejiang, em 16 de março de 1976. Filha de mãe professora e pai engenheiro, começou a aprender xadrez aos 8 anos, demonstrando rápido progresso. Quatro anos depois, venceu o Campeonato Mundial Sub 12 Feminino, tornando-se a primeira enxadrista chinesa a conquistar um título internacional. Após acumular muitos títulos na década seguinte, entre eles o bicampeonato Mundial Juvenil (1994 e 1996), compôs (ao lado de Xie Jun, Wang Lei e Wang Pin) a equipe chinesa na Olimpíada de 1998: a primeira não europeia a vencer o evento – também o primeiro dos quatro triunfos seguidos do país.
No Mundial de 2001, ela venceu o match final contra a russa Alexandra Kosteniuk por um placar de 5 x 3 após os desempates, e tornou-se a 9ª Campeã Mundial Feminina. Ela não defendeu o título na edição seguinte (2004) e não conseguiu chegar às finais em 2006, 2010 e 2012.
Xu Yuhua nasceu em 29 de outubro de 1976, na cidade chinesa de Jinhua (província Zhejiang). Em entrevista, compartilhou que adorava o cubo mágico quando criança, até que, quando tinha 6 anos, o pai a ensinou xadrez. Ela tornou-se WGM (Grande Mestre Feminina) em 1998, após vencer o Campeonato Asiático, conquistando também na sequência as Copas do Mundo de 2000 e 2002. Foi integrante das equipes chinesas que conquistaram ouro nas Olimpíadas de 2000, 2002 e 2004.
A primeira participação no Campeonato Mundial Feminino foi em 2000, quando chegou à terceira rodada. Em 2001 foi às semifinais e em 2004 às quartas. No 32º Campeonato Mundial Feminino, realizado entre 10 e 27 de abril de 2006 em Ecaterimburgo (Russia), Xu era a pré-ranqueada número 6. No último match, apenas três partidas foram jogadas contra Alisa Galliamova: com 2,5 x 0,5, Xu Yuhua sagrou-se a 11ª Campeã Mundial Feminina e tornou-se GM (Grande Mestre).
O maior prodígio
Hou Yifan lidera com boa vantagem o ranking mundial feminino, atualmente a 64 pontos da segunda colocada (Wenjun Ju). É da cidade chinesa de Xinghua, nascida em 27 de fevereiro de 1994. O fascínio pelo xadrez começou cedo, aos 3 anos, quando o pai (Hou Xuejian) comprou seu primeiro tabuleiro. Em 2003, a família mudou para Pequim para melhor apoiar a carreira da enxadrista. No mesmo ano, ela venceu o Mundial Sub 10 e chamou a atenção do técnico da seleção chinesa, Ye Jiangchuan, que a enfrentou e foi surpreendido: “então eu soube que ela era um gênio excepcional”. Aos 10 anos, Hou entrou no Centro Nacional de Xadrez, uma academia para jovens talentos de toda a China, e, em 2006, tornou-se a mais nova atleta a participar do Campeonato Mundial Feminino e das Olimpíadas.
Ela estreou no Mundial Feminino aos 12 anos, quando já demonstrou grande potencial. Na edição seguinte, aos 14, ficou com a prata depois de perder a final contra a russa Alexandra Kosteniuk. Em 2010, após vencer a também chinesa Ruan Lufei (2480) por 5×3, tornou-se a 13ª Campeã Mundial Feminina. Defendeu o título com sucesso no sistema de match contra a indiana Koneru Humpy em 2011, mas foi eliminada na segunda rodada de 2012 pela polonesa Monika Soćko (3×1). Em 2013, desafiou a ucraniana Anna Ushenina pelo título e venceu com boa vantagem: 5,5 x 1,5. Não participou na edição de 2015, mas voltou como desafiante em 2016: dessa vez a coroa foi reconquistada sobre a ucraniana Mariya Muzychuk(6×3). Ao todo são sete participações e quatro títulos.
Ao lado de Maia Chiburdanidze e Judit Polgar, é uma das três mulheres a chegarem no Top 100 Absoluto. São sete participações olímpicas pela seleção chinesa (a primeira aos 12 anos, em 2006, e a última em 2016): um título, três pratas e um bronze por equipes. Após formada pela Universidade de Pequim, em 2018 Hou recebeu bolsa para Mestrado em Educação na Universidade de Oxford, tendo deixado a carreira enxadrística em segundo plano para se concentrar na vida acadêmica.
Imagem 1: Hou Yifan | Imagem 2: Mundial 2013 | Imagem 3: Mundial 2016 | Imagem 4: Hou Yifan x Judit Polgar
2017 e 2018
Tan Zhongyi nasceu em 29 de maio de 1991, em Chongqing (China). O ano era o mesmo em que Xie Ju tornava-se a 7ª Campeã Mundial, dando à China seu primeiro título. Pouco tempo depois, Tan Zhongyi já brilhava nos torneios infantis, tendo vencido três mundiais de categorias seguidos entre 2000 e 2002. Ela tornou-se a 16ª Campeã Mundial Feminina após vencer a disputa em 2017.
Ju Wenjun nasceu na cidade de Xangai (China), em 31 de janeiro de 1991. Mantém o posto de número 2 no ranking mundial feminino, com rating FIDE atual 2595. Ela é a 31ª mulher da história a conquistar o título de Grande Mestre (GM). Em 2018, a disputa foi em sistema de match entre Tan Zhongyi e a desafiante Ju Wenjun (classificada pelo Gran Prix 2015-16). Sendo companheiras de equipe em Olimpíadas, as atletas já se conheciam há tempos e a espera era por uma batalha emocionante. O evento foi realizado em maio de 2018, com as dez rodadas sendo realizadas de forma dividida nas cidades natais das chinesas. Após a primeira metade, o placar era de 3,5 x 1,5 a favor de Wenjun. Tan Zhongyi ensaiou a reação na sexta partida, mas só conseguiu empates nas quatro rodadas seguintes. Com 5,5 x 4,5, Ju Wenjun sagrou-se a 17ª Campeã Mundial Feminina. No mesmo 2018, manteve o título após vencer a final contra a russa Kateryna Lagno, definida com emoção nos desempates.