O projeto Damas em Ação – Rumo à Maestria surgiu da necessidade de um ponto de apoio ao público feminino, buscando a união entre enxadristas e o crescimento da modalidade como um todo. Temos como proposta de valor: aumentar a visibilidade do jogo de xadrez; incentivar a prática pelas mulheres; congregar mais mulheres ao meio enxadrístico; e elevar o nível do xadrez nacional feminino.

       Entre as ações a serem desenvolvidas, temos o compromisso de publicar e divulgar ações positivas geradas no meio enxadrístico. Para que essas ações surjam, no entanto, acreditamos ser necessário o debate dos pontos positivos e negativos do que ocorre, buscando máximo aproveitamento dos mais variados pontos da vida enxadrística (técnica, financeira e temporal).

       Embora não tenhamos conseguido contato sobre o reconhecimento do projeto, acreditamos que a união das integrantes e atletas olímpicas seja positiva, sendo necessária a criação de uma Comissão para o Xadrez Feminino junto à Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) – onde as enxadristas possam ser ouvidas e participem dos debates pelo xadrez brasileiro. Trazemos, então, uma discussão sobre algumas situações e pontos que acreditamos ser de melhoria.

Final do Campeonato Brasileiro Feminino

       A Final do Campeonato Brasileiro Feminino é realizada anualmente e define a Campeã Brasileira Feminina, título máximo do xadrez nacional e, portanto, de extrema importância. A disputa já foi organizada de forma aberta e fechada, em sistema suíço e schuring (todos contra todos). Em 2019, quando será realizada a edição 2018, haverá novo formato: fechado com dezesseis participantes em sistema eliminatório. Entre os pontos positivos, ressaltamos o aumento no número de finalistas – que oportuniza a vivência para mais enxadristas – e o fato de que há tendência de maior público com as partidas se tornando mais decisivas.

       Por outro lado, alguns aspectos podem ser melhor trabalhados. A diferença ainda é grande entre as premiações gerais feminina e absoluta (140%); e, com o maior número de finalistas, a premiação global será mais diluída, fazendo com que o aumento em relação à edição anterior, de modo geral, não se reflita individualmente. As atletas terão que arcar com todos os custos – quando antes havia ajuda com hospedagem e alimentação – e o resultado é, somando-se a diluição maior da premiação, o encarecimento da participação para a grande maioria. Além disso, não existem critérios objetivos para a definição de todas as vagas e, há menos de 30 dias do evento, o folder ainda não foi divulgado – dificultando a programação das atletas, que não têm acesso aos horários ou mesmo local do evento.

       Portanto, acreditando que o novo formato seja praticável e que existam alguns pontos de melhoria, trazemos algumas sugestões para ajustes:

1. Redução da diferença entre as premiações feminina e absoluta para no máximo 70% na edição seguinte e de forma gradativa em sequência até um patamar ao menos próximo da igualdade, valorizando ambos os títulos e tornando a premiação geral correspondente ao número de finalistas;
2. Organizador local responsável (ou em parceria com a CBX) pelo custeio da hospedagem das atletas, ajuda que tornaria a participação menos custosa;
3. Estabelecimento de critérios claros para definição de todas as vagas, que estejam previstos em regulamento. Além das vagas para campeã do ano anterior, vice-campeã do ano anterior e classificadas pela semifinal (critérios atualmente utilizados), algumas opções:
   • – Atleta com maior rating FIDE ativo no momento de divulgação do folder da semifinal ainda não classificada;
   • – Vagas para as Campeãs Brasileiras Sub 20, 18 e 16 do ano de edição da Final;
   • – Vaga para a Campeã Brasileira Universitária do ano de edição da Final;
   • – Melhor ranqueada das duas regiões mais distantes do local de realização da Semifinal no momento de divulgação do folder (no caso da Semifinal 2018 realizada em São Paulo/SP, por exemplo, uma vaga para a Região Norte e uma para a Região Nordeste);
   • – Convidada do organizador local com UF correspondente.
4. Divulgação do folder completo com todas as informações da competição com ao menos os 45 dias de antecedência previstos no “Apêndices do Caderno CBX 2019”.

       Abaixo apresentamos um levantamento das últimas quatro edições do evento.

Olimpíada

       A Olimpíada de Xadrez é a maior competição da modalidade em termos de números de participantes e países representados, reunindo os grandes nomes do xadrez internacional. A 44ª edição do evento será realizada em Khanty-Mansiysk/Rússia, em 2020: entre 2019 e 2020, portanto, deve iniciar-se mais um ciclo olímpico, que definirá as equipes feminina e masculina que representarão o Brasil. O momento, então, é propício para a reflexão dos pontos que podem ser aperfeiçoados.

       Sobre o formato de escolha das atletas olímpicas, acreditamos que o adotado nos últimos dois ciclos (Olimpíadas 2016 e 2018) seja positivo, uma vez que incentiva o crescimento do nível técnico e atividade das jogadoras, baseando-se em performances obtidas em Abertos do Brasil, Finais e Semifinais do Campeonato Brasileiro, tendo o regulamento das últimas edições sido divulgado com antecedência. Este ano, no entanto, ainda não é de conhecimento público como a escolha será feita: segundo o comunicado nº 01/2019 da CBX, o regulamento de formação das Equipes Olímpicas de 2020 será publicado apenas no primeiro dia de julho deste ano – decisão que trará dificuldade para a organização anual das atletas.

       Tendo como exemplo a última Olimpíada, gostaríamos de destacar a importância de uma boa comunicação entre Confederação e atletas. Embora tenhamos tentado (mais de uma vez) estabelecer contato para buscar informações, a logística da viagem foi divulgada apenas dez dias antes da data de embarque, fato que dificultou a organização das atletas. Entre os fatos logísticos, ainda, gostaríamos de ressaltar o horário apertado entre o término da última rodada e o horário de embarque do voo de volta: a bagagem teve que ser levada até o local de jogos (tendo a chuva como obstáculo) e de lá todos foram diretamente ao aeroporto – os atletas não puderam participar do cerimonial de encerramento, tendo ficado o questionamento sobre o que seria feito caso o Brasil estivesse entre os premiados.

       Como pontos de melhoria, trazemos algumas sugestões:

1. Divulgação do regulamento de formação das Equipes Olímpicas entre janeiro e fevereiro do ano anterior à realização da Olimpíada, com participação das atletas na formação dos critérios (para que possam ser ouvidas e contribuam em possíveis ajustes);
2. Repasse das informações aos atletas sobre a logística da viagem com ao menos 30 dias de antecedência da data de partida;
3. Passagem de volta no dia seguinte ao término da última rodada ou com prazo adequado a participação no cerimonial de premiação;
4. Fechamento do ciclo olímpico em maio do ano de realização do evento, com criação de um treinamento pré-olímpico logo após a definição da equipe. Em 2018, as integrantes do projeto Damas em Ação organizaram uma sequência de participações em competições internacionais, através de fundos próprios e apoio do público enxadrístico: o resultado foi considerado positivo, porém o custo financeiro é alto e as atletas tiveram que investir muitas horas com arrecadação de fundos e questões organizacionais. Acreditamos que um treinamento pré-olímpico organizado pela CBX (ou em parceria com o projeto) seria um grande passo para valorização das atletas olímpicas e busca pelo crescimento técnico;
5. Apoio da CBX na busca por patrocinadores, recursos federais e campanhas de arrecadação de fundos (como a organizada pelo Damas em Ação), tendo em vista o item anterior.

Semifinal do Campeonato Brasileiro Feminino

       A Semifinal do Campeonato Brasileiro Feminino é uma das competições mais importantes do cenário nacional, visto ser classificatória para a Final do Brasileiro Feminino, contando com a participação das melhores enxadristas do país. Com isso, faz-se importante o debate dos pontos de melhoria, buscando o crescimento do número de participantes e a representatividade de todo o país. Dessa forma, sugerimos alguns pontos que acreditamos poderem ser mais bem trabalhados.

♛ Divulgação: conforme o regulamento nacional, o folder da Semifinal deve ser divulgado com no mínimo 45 dias antecedentes ao evento, para que possa haver planejamento por parte das enxadristas. No ano passado (2018), porém, o folder foi divulgado com menos de 30 dias do evento, sendo que não houve comunicado público quanto ao cancelamento de uma data que já havia sido previamente definida – fato que dificultou a participação das jogadoras, especialmente as das regiões mais distantes.

♛ Premiação: em 2018, as enxadristas demoraram mais de um mês para receber o valor estipulado no folder do evento, sem qualquer aviso prévio de que a premiação não seria entregue logo após o término da competição ou comunicado posterior com previsão para que o acerto fosse feito. Novamente, algo que poderia ser amenizado pela comunicação.

♛ Regulamento: além do prazo de 45 dias não cumprido para a divulgação do folder, o número de rodadas foi abaixo do mínimo estipulado. Para a seriedade da competição e da modalidade como um todo, acreditamos ser importante o respeito aos requisitos do regulamento.

       Acreditando que o debate deva ser visto como algo positivo e tendo em vista os temas abordados, gostaríamos de novamente expressar a importância da criação de uma Comissão para o Xadrez Feminino junto à Confederação Brasileira de Xadrez (CBX), onde o público feminino possa ser representado e tenha voz nas discussões pelo xadrez brasileiro. Afinal, juntos somos mais fortes.

01 de Fevereiro de 2019

Projeto “Damas em Ação – Rumo à Maestria”
WFM Julia Alboredo, FM/WIM Juliana Terao, WIM Kathiê Librelato, WFM Suzana Chang e Thauane de Medeiros

Anexo I – Levantamento dos valores com passagem aérea no trajeto capitais do Brasil-Rio de Janeiro/RJ (base para os custos médios apresentados no gráfico ilustrativo sobre as Finais)