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Potências do xadrez: Rússia

A antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS ou simplesmente União Soviética) detém seis dos dezessete títulos mundiais femininos. Após a divisão nos novos países existentes hoje, quatro desses títulos permaneceriam em solo russo. A escola russa (com resquícios da era soviética) pode ser, então, considerada a segunda maior força do xadrez feminino atual – especialmente somando-se o fato de que estão sempre na briga pelos pódios olímpicos.


As Olimpíadas

A exemplo de Botvinnik, Smyslov e Karpov, muitos são os destaques soviéticos que hoje seriam nascidos em território russo, seja no meio aberto ou feminino. Na disputa olímpica, a antiga URSS obteve 29 títulos. Na era pós divisão a Rússia não deixou a desejar: na Olimpíada aberta foram seis títulos seguidos, mais três pratas e dois bronzes. As mulheres só voltaram a vencer 26 anos depois do último título soviético (o domínio inicial foi das georgianas), mas, por outro lado, conquistaram o tri campeonato entre 2010 e 2014, mais três pratas e três bronzes. Em 2020, estarão em casa para a 44ª edição do evento, que será realizado em Khanty-Mansiysk, e podem lutar para reconquistar o topo – hoje das chinesas.


A pioneira

Vera Frantsevna Menchik nasceu em Moscou, em 16 de fevereiro de 1906, sendo filha de pai tchecoslovaco e mãe inglesa. Aprendeu a jogar xadrez com o pai, aos 9 anos, e conquistou o primeiro resultado na modalidade aos 14. Em 1921, mudou-se com a mãe e a irmã para a Inglaterra e, em 1923, ingressou no clube de xadrez Hastings – que em sua fundação (no recente ano de 1882) não permitia a participação ou se quer a entrada de mulheres – depois se tornando aluna de Géza Maróczy.

O 1º Campeonato Mundial Feminino, realizado em 1927 durante a 1ª Olimpíada de Xadrez, foi o início da “Era Menchik”. Ela tornava-se a pioneira da escola russa/soviética e a primeira campeã mundial de todos os tempos. Conquistou nove títulos ininterruptos e manteve o posto por 17 anos, com um score de 78 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota. Ainda detentora do título, morreu em 1944 (aos 38 anos), quando a casa onde estavam ela e sua família foi atingida por uma bomba durante a Segunda Guerra Mundial.

Tendo em vista o momento atual, é de se imaginar como a sociedade do início do século XX era desafiadora para àquelas que buscavam a modalidade como profissão. Pesquisando na Mega Database, por exemplo, é possível encontrar apenas pouco mais de 330 partidas de Menchik, enquanto para Alekhine (campeão mundial no mesmo período) existem mais de 2200.


3ª Campeã Mundial

Elizaveta Ivanovna Bykova, nascida em 04 de novembro de 1913, era de uma família de camponeses da vila Bogolyubovo, região de Vladimir, sendo a segunda da geração soviética de domínio do Mundial Feminino. Conheceu o xadrez após mudar-se para Moscou, logo que completou a escola primária, e aos 14 anos participou da primeira competição. Enquanto levava a modalidade como um hobby, dedicou-se aos estudos na escola tradicional, depois no ensino técnico e superior. Trabalhou no Central Statistical Bureau, jogando raramente até os 22 anos.

Em 1935, um torneio internacional realizado na capital russa marcou o início de sua carreira enxadrística. Elizaveta, então, passou a ser uma zelosa e entusiasmada estudante da modalidade. Com a Segunda Guerra Mundial, começou a trabalhar em empresas de impressão, tendo falado diante do Exército Vermelho e regularmente feito simultâneas e discursos sobre xadrez. Por sua iniciativa, os enxadristas assumiram o patrocínio de hospitais.

Foi três vezes Campeã Mundial Feminina (1953, 1958 e 1959) e conquistou os títulos de Mestre Internacional Feminina (WIM), Mestre Internacional (IM) e Grande Mestre Feminina (WGM). Participou da organização e condução dos programas “Chess School” na televisão e também dedicou-se à literatura, sendo autora de três livros: “Vera Menchik”, “Campeonatos Mundiais Femininos” e “Jogadores de Xadrez Soviéticos”. Ela morreu em 8 de março de 1989, aos 75 anos.


4ª Campeã Mundial

Olga Nikolaevna Rubtsova era moscovita nascida em 20 de agosto de 1909. Na infância aprendeu a jogar xadrez com o pai, Nikolay Rubtsov, cientista metalúrgico e famoso jogador de Moscou, tendo ele como primeiro treinador. Obteve o primeiro título aos 17 anos, no torneio realizado pelo jornal local “Komsomolskaya Pravda”, conquistando no ano seguinte (1927) o Campeonato Feminino da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Em 1936, formou-se em engenharia na então Escola Técnica Superior Bauman de Moscou. Foi casada com Abram Borisovich Polyak, engenheiro e seu treinador, com quem teve a também enxadrista Elena Fatalibekova, hoje Grande Mestre Feminina (WGM).

Sua estreia no Campeonato Mundial foi na edição aberta de 1949-1950, quando, aos 40 anos, obteve a 2ª colocação, atrás apenas da compatriota Lyudmila Rudenko. Em 1953 não conseguiu a classificação para a final, voltando à disputa do título apenas em 1956, quando venceu o Torneio de Candidatas. Neste ano, a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) determinou que o campeonato seria decidido entre as três melhores jogadoras do período: Olga superou, então, Byvoka e Rudenko no sistema de disputa em mini jogos de oito partidas, tornando-se a 4ª Campeã Mundial Feminina. Em 1958, contudo, perdeu o posto no match de revanche contra Elisaveta Bykova, que conquistava o bicampeonato.

Além do mundial feminino, Rubtsova também conquistou o tetracampeonato da URSS e o título de Mestre Internacional (IM). No final dos anos 1960, ainda, iniciou a prática do xadrez por correspondência, onde conquistou destaque após triunfar no Campeonato Mundial de 1968-1972, quando se tornou a primeira a vencer os mais altos torneios em modalidade presencial e a distância. Ela morreu em 13 de dezembro de 1994, aos 85 anos.


12ª e mais recente russa Campeã Mundial

Alexandra Konstantinovna Kosteniuk é uma das personalidades mais conhecidas do mundo enxadrístico. Nascida em 23 de abril de 1984, na cidade russa de Perm, a autointitulada ChessQueen (como é conhecida nas redes sociais) aprendeu a jogar xadrez com o pai aos 5 anos e tem uma irmã mais nova também enxadrista, a WMF Oksana Kosteniuk. Obteve destaque já nas primeiras categorias de base, vencendo o europeu sub 10 e sub 12. Com 12 anos, ainda, foi Campeã Mundial Sub 12 e se tornou a campeã russa de xadrez rápido. Aos 14 era Grande Mestre Feminina (WGM).

Em 2008, tornou a 12ª Campeã Mundial Feminina após vencer a 33ª edição do evento. Ela compõe a seleção russa desde 2002, tendo conquistado o topo do pódio olímpico em 2010, 2012 e 2014. Em 2003, tornou-se treinadora certificada após concluir os estudos na Academia Estadual Russa de Educação Física. Além disso, também atuou como modelo e atriz, sendo capa de mais de 100 revistas. Publicou dois livros: “Como me tornei Grande Mestre aos 14 anos” e “Diário de uma dama do xadrez”. Ainda, atua no meio filantrópico e com o aplicativo Chess King.


Atual desafiante

Aleksandra Yuryevna Goryachkina é o mais recente prodígio russo. Nascida em setembro de 1998, venceu diversos europeus e mundiais de categoria – alguns com score perfeito. O pai é Mestre FIDE (MF) e seu primeiro treinador e a mãe é Candidata a Mestre. Em 2011, ela ganhou o Memorial Lyudmila Rudenko em São Petersburgo e durante esse ano subiu quase 300 pontos em rating FIDE (de 2045 a 2333). Conquistou o título de Grande Mestre (GM) em 2018 e em 2019 a vaga como desafiante ao título mundial feminino. Após vencer o Torneio de Candidatas (com duas rodadas de antecedência), ela enfrentará Ju Wenjun pelo 43º Campeonato Mundial Feminino. Atualmente também estuda Bacharel em Engenharia Civil de forma on-line na Universidade Estadual de Moscou.